Após a derrocada do famoso “milagre econômico” brasileiro, nosso país passou a vivenciar uma enorme instabilidade econômica. Com o advento da nova república, vários presidentes tentaram, sem sucesso, recuperar, economicamente, o país.
José Sarney tentou reverter a situação com a criação do Plano Bresser e do famoso Plano Cruzado. Porém, fez com que a inflação chegasse a índices alarmantes e os preços congelassem, causando um sério prejuízo para a economia nacional.
Fernando Collor, numa tentativa desastrosa de salvar o país, criou o conhecido Plano Collor. Através deste, confiscou as poupanças de grande parte da população. Além disso, sua imagem foi exposta na mídia como corrupta e tornou-se o primeiro presidente a sofrer impeachment.
Com a sua saída do poder, seu vice (Itamar Franco) tentou impor um novo plano. Inicialmente, a sua equipe econômica não conseguiu atingir os êxitos pretendidos, até que o presidente resolve convocar o sociólogo Fernando Henrique Cardoso para o Ministério da Fazenda. Como ministro, desenvolveu o Plano Real que, após tentativas desastrosas dos planos anteriores, conseguiu salvar o país do mal da hiperinflação e da instabilidade econômica que o rondava.
Ao longo desta pesquisa bibliográfica, iremos analisar este plano objetivando mostrar a sua importância para a economia nacional e os avanços que trouxe para a modernização do Brasil.
2. ASPECTOS HISTÓRICOS
2.1 NO BRASIL
Em 1989, o ex-governador do estado de Alagoas Fernando Collor,“caçador de marajás”, com apoio dos setores que temiam a vitória do candidato do PT, Luiz Inácio da Silva, é eleito presidente, nas primeiras eleições diretas para o cargo desde 1960.
Em 1991, onze anos depois da primeira viagem ao Brasil, em 1980, o papa João Paulo II, mais velho e com a saúde debilitada pelas seqüelas dos três tiros que levou no atentado de 1981, na Praça São Pedro, retornou em uma visita cercada de expectativas exageradas e de resultados não tão bons em números. A passagem do pontífice ficou longe de ser um fracasso. Mas decepcionou quem esperava uma recepção estrondosa como a primeira.
Naquele momento, frei Betto expressou ainda outras razões. "Hoje, temos um povo bem menos esperançoso, muito mais miserável e em busca de novos paradigmas". Padre Roberto Tucci, organizador da viagem, lembrou que dessa vez o papa visitou cidades menores. "Além disso, hoje em dia, o índice de católicos praticantes no Brasil é igual ao dos países desenvolvidos, apenas 12% da população", enfatizou Tucci.
O crescimento da Igreja Universal também já afetava a dominação do catolicismo. Tanto que no dia da chegada do papa, a equipe do bispo Edir Macedo reuniu 120 mil pessoas no estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro (RJ). Um dos momentos mais emocionantes da visita aconteceu em Florianópolis, durante a beatificação de madre Paulina, italiana radicada no Brasil.
Uma nova crise política iria abalar o Brasil: após dois anos, o próprio irmão do presidente, Pedro Collor de Mello, faz denúncias públicas de corrupção através de um sistema de favorecimento montado pelo tesoureiro da campanha eleitoral, PC Farias. Sem qualquer resistência do Executivo, o Congresso Nacional instaura uma CPI cujas conclusões levam ao pedido de afastamento do presidente (impeachment). Collor renunciou antes de ter seu impedimento aprovado pelo Congresso, mas mesmo assim teve seus direitos políticos suspensos por dez anos. A Justiça o absolveu de todos os processos movidos contra ele por sua gestão.
Collor foi sucedido na presidência pelo vice-presidente Itamar Franco. Itamar assume interinamente a presidência em 2 de outubro de 1992, sendo formalmente aclamado presidente em 29 de dezembro de 1992, quando Collor renuncia ao cargo. O Brasil estava no meio de uma grave crise econômica, tendo a inflação chegado a 1100% em 1992, e alcançado quase 2500% no ano seguinte. Itamar trocou de ministros da economia várias vezes, até que Fernando Henrique Cardoso assumisse o Ministério da Fazenda.
Em Abril de 1993, cumprindo com o previsto na Constituição de 1988, o governo realiza um plebiscito para a escolha da forma e do sistema de governo no Brasil. Quase 30% dos votantes não compareceram ao plebiscito ou anularam o voto. Dos que comparecem às urnas, 66% votaram a favor da república, contra 10% favoráveis à monarquia. O presidencialismo recebeu cerca de 55% dos votos, ao passo que o parlamentarismo obteve 25% dos votos. Em função dos resultados, foi mantido o regime republicano e presidencialista.
Por fim, em primeiro de maio de 1994, morre Airton Senna.
3. BREVE ANÁLISE DOS GOVERNOS ITAMAR FRANCO E FHC
Itamar Franco iniciou sua vida política pelo MDB (Movimento Democrático Brasileiro), candidatou-se a prefeito na cidade de Juiz de Fora em 1966 e 1972 durante sua segunda gestão foi candidato do PMDB e senador pelo Estado de Minas Gerais em 1974 e 1982.
Itamar Franco por ser o vice-presidente de Fernando Collor de Mello vinha governando o Brasil desde o início do processo de impeachment do presidente, tomando posse definitivamente para governar até o fim do mandato. Ele havia rompido as relações com Collor desde quando começaram as denúncias contra os esquemas PC.
Coube a Itamar Franco tranqüilizar o povo brasileiro traumatizado com os episódios do impeachment. Governar com equilíbrio e transparência, tentando ganhar o apoio dos partidos à esquerda para um governo sem turbulências. O Brasil passava por uma crise econômica devido à inflação. Havia um rombo de um bilhão de dólares entre a receita e as despesas da União. O parque industrial estava 30% ocioso, aumentando o desemprego. A especulação exagerada nos setores ligados à indústria e ao comércio acelerava a questão da inflação no Brasil.
A primeira medida de Itamar foi conduzir um plebiscito para que o povo escolhesse o sistema de governo do Brasil: 66% votaram na República e mais de 55% no regime presidencialista. Na esfera econômica ele convocou o sociólogo Fernando Henrique Cardoso para o Ministério da Fazenda que elaborou no final do ano de 1993 o plano que tinha como objetivo a estabilização econômica, o Plano Real.
O Brasil ganhou uma nova moeda, o real, com promessas de acabar com a inflação, entrando em vigor a Unidade Real de Valor (UVR), que realizava a transição entre cruzeiro e real. Com a valorização da moeda houve uma estabilidade econômica e o prestígio de Itamar Franco obteve nível elevadíssimo entre o povo e também o do seu ministro da fazenda, que mais tarde viria a ser candidato à presidência do Brasil.
O governo Itamar também teve a investigação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) por causa das denúncias de que estava tendo irregularidades no Orçamento da União. A CPI provou o envolvimento de ministros, parlamentares dentre outros com altos cargos que participavam do conhecido “anões do orçamento” liderado por um deputado federal da época chamado João Alves. Esse esquema desviava recursos públicos para entidades filantrópicas fantasmas. Apesar disso, o prestígio de Itamar não foi abalado e ele transferiu toda a sua popularidade para o presidente Fernando Henrique Cardoso, indicado pelo PSDB.
Fernando Henrique Cardoso disputou a presidência sempre com o enfoque de ser o construtor do Plano Real. Com o apoio de Itamar e da aliança entre vários partidos, sendo eleito já no 1° turno tendo como adversário Luiz Inácio Lula da Silva. Tomando posse em 1° de janeiro de 1995, se reelegendo em 1998.
Durante seu primeiro mandato destacou – se na questão econômica as medidas de privatizações com a venda das estatais como a Vale do Rio Doce e o Sistema Telebrás, procurou mudar a discriminação referente ao capital de estrangeiro visando uma abertura econômica estrangeira, manteve alta as taxas de juros para atrair os capitais externos e obter êxito com o plano real, conseguindo atingir as suas finalidades e mantendo a inflação em níveis baixos em relação aos governos anteriores. Em contrapartida o índice de desemprego e a queda de consumo marcaram esse período.
Em 1° de janeiro o Mercosul, acordo de integração econômica entre a Argentina, o Brasil, Paraguai e Uruguai entra em vigor inicialmente, com metas de comercialização sem impostos de importação, tarifa aduaneira para países que não eram membros, dentre outras questões.
Durante o segundo mandato, a situação era bem crítica e o presidente teve que administrar diversas crises, o desemprego, a queda do consumo, etc. Os investidores estrangeiros receosos tiraram bilhões de dólares do país fazendo o governo recorrer ao FMI, e como conseqüência a elevação das taxas de juros e o controle máximo sobre os gastos públicos. E também o país enfrentava à crise relacionada ao apagão, onde houve um sério racionamento de energia entre setores públicos e privados, esses acontecimentos de certa forma desgastaram a sua popularidade.
4. PERÍODO DO PLANO REAL
O Plano Real teve início em 1 de julho de 1994 e se estende até os dias atuais. Consistiu no plano econômico de melhor e maior resultado dos últimos anos.
No período que antecedeu o plano real, o Brasil vivia uma situação de grave instabilidade econômica, social e política. A inflação atingia níveis elevadíssimos, fazendo com que o Brasil fosse o país com a maior inflação do mundo, durante a segunda metade do século XX. Merece também destaque o fato de que o primeiro presidente eleito pelo voto popular após os 20 anos de ditadura militar sofrera um processo de impeachment, tendo renunciado do cargo por pressão da população e da imprensa.
Entre os anos de 1986 e 1991 o país foi transformado num verdadeiro laboratório de experiência para planos político-econômicos de combate à inflação. O presidente Sarney iniciou a era dos planos econômicos com o plano cruzado, conhecido Porter entre suas medidas o congelamento de preços. O plano não surtiu efeito, pelo contrário, favoreceu o desabastecimento e a criação de mercados paralelos para obtenção de suprimentos.
Sabendo do insucesso do plano cruzado, Sarney lançou o Plano Cruzado II, que revogava todas as medidas do plano anterior. Posteriormente veio o plano Bresser, que teve curta duração, e o plano verão. Nenhum obteve êxito na luta contra a inflação.
No governo Collor, foram lançados os planos Collor I e II, que tinham entre suas medidas o confisco da caderneta de poupança. O resultado foi um prejuízo enorme para os detentores de poupança e investidores, além de um grande desagrado com a figura do presidente que, somado às denúncias de corrupção, favoreceram seu impeachment, em 1992.
Após a saída de Collor, assume seu vice, Itamar Franco, com a promessa de reverter a grave situação brasileira, em especial a hiperinflação que assolava a economia do país. Assim, em maio de 1993, o sociólogo e então ministro das relações exteriores, Fernando Henrique Cardoso assume o ministério da fazenda,e tem concedidos plenos poderes para levar à frente o plano real.
Com a ajuda de uma equipe de economistas da PUC-RIO, o plano real foi lançado em fevereiro de 1994, com a criação da URV( Unidade Real de Valor). Em junho começou a circulação da nova moeda, o Real. Em menos de um mês, a inflação que era de 46, 58% passou a 6,08%, atingindo em setembro a incrível marca de 1,51%.
5. EQUIPE ECONÔMICA DO PLANO
O Plano Real foi idealizado por economistas formados e/ou funcionários da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO), a saber Persio Arida, André Lara Resende, Gustavo Franco, Pedro Malan, Edmar Bacha e Winston Fritsch que devido às medidas amargas do plano, ficaram conhecidos pela alcunha de "filhos da PUC".
5.1 Pérsio Arida:
Formado pela Universidade de São Paulo e doutorado pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), foi um dos idealizadores do Plano Cruzado, (1986), durante o governo do presidente José Sarney e em 1994 participou da elaboração do Plano Real. Ocupou a presidência do Banco Central do Brasil em 1995; a carreira pública abriu portas para uma sociedade com o banqueiro Daniel Dantas no Banco Opportunity -- mas após alguns anos deixou a instituição. Publicou junto com José Márcio Rego e outros o livro "História do Pensamento Econômico como Teoria e Retórica".
5.2 André Pinheiro de Lara Resende:
Formado em Economia pela PUC-Rio, obteve posteriormente o título de Phd em Economia pelo Massachusetts Institute of Technology. Ao lado de Persio Arida, Edmar Bacha, João Sayad e Dilson Funaro, entre outros, arquitetou o Plano Cruzado, durante o governo do ex-presidente Sarney (1986), numa tentativa fracassada de combater a inflação. Foi diretor do Banco Central do Brasil, negociador chefe da dívida externa e um dos integrantes da equipe econômica que elaborou o Plano Real.
5.3 Gustavo Henrique de Barroso Franco:
É um economista brasileiro. graduou-se (1975-1979) em economia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e, em seguida, completou seu mestrado, também pela PUC-Rio. Durante 1993-1999, foi secretário de política econômica adjunto do Ministério da Fazenda, diretor de Assuntos Internacionais e presidente do Banco Central do Brasil. Teve participação central na formulação, operacionalização e administração do Plano Real.A partir de sua experiência de governo publicou dois livros: O Plano Real e Outros Ensaios e O Desafio Brasileiro: ensaios sobre desenvolvimento, globalização e moeda.
5.4 Pedro Sampaio Malan:
É um engenheiro eletrico e economista brasileiro, tendo sido professor da Pontifícia Universidade Católica.Formou-se engenharia elétrica pela Escola politécnica da Pontifícia Universidade Católica em 1965, e conquistou um doutorado em economia pela Universidade de Berkeley. Malan trabalhou para o governo de Fernando Collor de Mello como negociador responsável pela reestruturação da dívida externa brasileira nos termos do Plano Brady, redução da dívida pública, reformas do estado e pela condução do plano de privatização e abertura comercial. Foi um dos arquitetos do Plano Real.
Malan foi Ministro da Fazenda durante os dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso, de 1 de janeiro de 1995 - quando FHC assumiu o primeiro mandato de presidente - até 31 de dezembro de 2002, quando terminou o segundo mandato.
Em determinado momento, a condição de "homem-forte" de Malan dentro do governo foi tanta que o PSDB chegou a cogitar sua candidatura à sucessão de Fernando Henrique Cardoso em 2002. No fim, entretanto, o escolhido foi o então ministro da Saúde José Serra.
5.5 Edmar Lisboa Bacha:
É um economista brasileiro. Participou da equipe econômica que instituiu o Plano Real, durante o governo Itamar Franco.
Considerado por muitos o "pai" do Plano Real, foi o primeiro economista do Brasil a completar o doutorado de economia em uma universidade "ivy league", nos Estados Unidos (Universidade de Yale).
Na vida pública, participou do Plano Cruzado, na década de 1980, com o cargo de presidente do IBGE. Retirou-se do Governo José Sarney quando este decidiu, na véspera das eleições, comprometer todo o esforço de arrocho fiscal promovido para segurar a inflação. Uma vez que o "gatilho salarial" foi colocado em prática, o plano se corroeu, o que fez o Brasil "perder 10 anos" de sua história econômica[1], segundo Bacha. Voltou para a vida pública no Governo Itamar, quando propôs a Fernando Henrique Cardoso, então ministro da Fazenda, um novo plano para controlar a inflação. Sem o aval do FMI, o plano foi um sucesso. Garantindo a eleição de FHC à Presidência da República em 1994. Permaneceu no governo durante dez meses como presidente do BNDES. Depois, encerrou sua passagem pela vida pública e se tornou consultor do BBA.
5.6 Winston Fritsch:
É um economista brasileiro, formado em ciências sociais pela PUC-Rio e PhD em economia pela Universidade de Cambridge.
Ex-secretário de política econômica do Ministério da Fazenda no governo de Fernando Henrique Cardoso, compunha a equipe de economistas que criou o Plano Real e manteve a linha econômica voltada para a globalização durante os oito anos de governo FHC.
6. MEDIDAS MACROECONÔMICAS DO PLANO
A primeira etapa a ser cumprida para preparar a implantação do Plano Real foi a criação do PAI ( Programa de Ação Imediata), elaborado um anos da implantação do inicio de vigência do plano, este apontou que:
- os gastos públicos deveriam ser “enxugados” em aproximadamente 6 bilhões de dólares;
- no setor fiscal deveria haver um combate a evasão, inclusive de grandes empresas, além de aumento em cinco pontos percentuais dos impostos federais.;
- aplicação da Responsabilidade Fiscal por parte dos Estados e Municípios;
- maior controle de gastos nos bancos estaduais e intervenção do Banco Central nestes quando fosse necessários, combate a irregularidades com Lei do Colarinho Branco;
- redução da estrutura dos Bancos Federais, evitando assim a concorrência recíproca e predatória, e também combate de irregularidades com a Lei do Colarinho Branco;
- redução da estrutura estatal através de privatizações de empresas dos setores siderúrgico, telefônico, petroquímico e energético (concessionárias de energia elétrica), sendo a primeira delas a CSA (Companhia Siderúrgica Nacional) localizada em Volta Redonda -RJ. A máquina administrativa brasileira era demasiadamente grande e onerosa, somente em âmbito federal haviam mais de 100 autarquias, 40 fundações e 29 empresas públicas sem contar as estádias, muitas destas já encontravam-se estagnadas uma vez que os recursos sempre eram alocados para outras áreas.
A segunda etapa consistiu a na criação da URV (Unidade Real de Valor) no dia 27 de maio de 1994, a princípio convertendo benefícios previdenciários e salário, promovendo neutralidade distributiva.
Em 30 de junho de 1994 é editada a Medida Provisória que implementou o Real como nova moeda brasileira, iniciando assim a terceira etapa do plano:
- o ajuste e reajuste de preços passam a ser anuais e submetidos a uma planilha de custo de produção;
- dar-se prosseguimento às privatizações de empresas estatais;
- reduze-se gradualmente as tarifas de importação e facilitação de prestação de serviços internacionais;
-manutenção do câmbio valorizado artificialmente, por meio de um regime fixo em relação a um conjunto de moedas liderado pelo dólar;
- aumenta-se a taxa básica de juros e a taxa do depósito compulsório.
7. CONSEQUÊNCIAS DO PLANO
O Plano Real apresentou, em longo prazo, alguns aspectos negativos e positivos, com resultados para a economia brasileira. Os reflexos das conseqüências negativas desse plano ficaram claros principalmente no segundo governo de Fernando Henrique Cardoso, marcado por uma crise econômica que só veio a ser controlada através de medidas adotadas pelo governo do presidente posterior, Luís Inácio Lula da Silva.
Dentre as conseqüências positivas desse plano pode-se dizer que apenas duas delas se perpetuaram: a queda e o controle da inflação bem como o aumento da competitividade de determinados setores da economia brasileira. Os outros aspectos positivos como, por exemplo, a elevação da taxa de crescimento da economia, aumento nos níveis de renda e o impacto positivo nos balanços das empresas tiveram duração de curto prazo, alguns deles se restringindo apenas ao ano de 1994.
No que se refere às conseqüências negativas, destaca-se, primeiramente, a desindustrialização que a abrupta abertura da economia proporcionou, lançando vulneráveis empresas brasileiras em uma concorrência predatória com as multinacionais, resultando numa desnacionalização de grande parte dos segmentos produtivos, alavancada pela política de privatização (política essa que, felizmente, teve seu fim no governo Lula).
Destaca-se também a crescente vulnerabilidade externa da economia brasileira, uma vez que passou a depender cada vez mais de investimentos estrangeiros.
Outra conseqüência do Plano Real que se faz necessário ressaltar é o ressurgimento do déficit comercial mensal a partir da taxa de câmbio valorizada associada à queda das barreiras de importação, à rápida taxa de crescimento da economia e o aumento da renda. Apesar de esse déficit ter sido compensado em vários momentos pelo suporte de capital estrangeiro, ele tornou-se um problema constante na economia brasileira que obrigou o governo da época, numa tentativa de controle, a desvalorizar a moeda, aumentando as tarifas de vários bens de 20% para 70%, além da introdução de cotas de importação para produtos como automóveis.
Além disso, as elevadas taxas de juros que o governo FHC se viu obrigado a sustentar para controlar os gastos de consumo tiveram um impacto negativo sobre as finanças públicas, aumentando assim a dívida pública tanto interna, quanto externa.
Apesar de o setor econômico do país ter demonstrado uma considerável recuperação nos últimos anos caracterizada pela baixa inflação, crescimento do PIB, aumento do salário mínimo e diminuição da dívida externa, muitas das conseqüências negativas ainda persistem.
8. CONTRIBUIÇÕES DO PLANO PARA O AVANÇO DO PAÍS
O Plano Real é considerado o plano mais bem-sucedido, dos últimos anos, no combate à inflação crônica. Sua base funcionou por buscar resultados que se mantivessem a longo prazo. Com a queda da inflação, a economia brasileira voltou a crescer rapidamente e o Brasil começou a sair do enorme abismo em que se encontrava.
A primeira grande contribuição que o novo plano trouxe para o país foi a consolidação da sua estabilidade econômica. Os números indicam que entre 1988 e 1993 (início da Nova República e dos planos que fracassaram) a taxa média de inflação era de 1280,9% ao ano. No período de 1994 até maio de 2000 (Plano Real), essa mesma taxa foi de apenas 11,4% ao ano. Estes dados são do IBGE através do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e, com eles, podemos notar a grandiosa queda da inflação no nosso país. Através disto, podemos dizer que o Plano Real conseguiu atingir uma meta que desde 1958 era pretendida pelo Brasil.
Podemos ver no gráfico abaixo como ocorreu a redução da inflação nos diversos planos econômicos do nosso país:
A segunda contribuição que merece ser destacada refere-se à retomada do crescimento do país. Entre 1994 e 1997, a economia cresceu a uma taxa média anual de 3,8%. Mesmo com a crise que assolou o mundo entre 1997 e 1998, o Brasil conseguiu se recuperar muito bem e, no primeiro quadrimestre de 2000, a produção industrial cresceu 6,6% (com grande expansão de 19,7% no setor de bens duráveis).
O Plano Real não trouxe apenas contribuições para o setor econômico. Ele também impulsionou bastante o setor social. Entre os anos de 1990 e 1998, 13 milhões de pessoas ultrapassaram a linha de pobreza, representando uma redução do percentual da população pobre do país de 43,8% para 32,7%. Além disso, o número de residências sem abastecimento d’água, no mesmo período, diminuiu de 25% para 19%. Sem esgoto sanitário, diminui de 48% para 41%. Sem energia elétrica, diminuiu de 12% para 7%. E, sem coleta de lixo, diminuiu de 36% para 26%.
O Plano também trouxe importantes benefícios para a educação. Entre os anos de 1992 e 1999, o número de crianças, entre 7 e 14 anos, que não estavam na escola caiu de 18,2% para 4%. A expansão do ensino fundamental fez com que, o número de matrículas no ensino médio, aumentasse em 57,7% entre 1994 e 1999. A taxa de analfabetismo entre pessoas de 15 anos ou mais reduziu-se de 18,3% para 13,8% no mesmo período. Por fim, a expansão da matrícula no ensino superior, entre 1995 e 2000, foi da ordem de 424 mil.
Na área da saúde, houve a chegada, em janeiro de 2000, dos primeiros medicamentos genéricos. Isso representou uma redução nos preços de medicamentos de 30% a 55%. Além disso, a partir de 1995, vários programas de saúde foram implantados no país: o programa de agentes comunitários de saúde (que, após 6 anos do Real, atendia a 65 milhões de cidadãos), o programa saúde da família (iniciado em 1994, atendia a cerca de 21 milhões de pessoas em 2000), os programas de vacinação (cujos recursos passaram de R$ 145 milhões para R$ 270 milhões entre 1996 e 1999), os cuidados com a AIDS (que fez com que o programa fosse apontado na OMS como um dos melhores programas de prevenção da doença no mundo) e o Programa de Redução da Mortalidade Infantil (fez com que, entre 1989 e 1998, a taxa de mortalidade infantil caísse de 50,9 para 36,1 por mil nascidos vivos).
Na agricultura, o plano fez com que a produção de grãos aumentasse de 58,9 milhões de toneladas, em 1990, para 85,7 milhões de toneladas em 2000. Além disso, houve uma promoção do saneamento do setor rural e prioridade à pequena propriedade.
Quanto ao emprego, após encerrar 1999 com uma adição de 418 mil postos de trabalho, no período de 12 meses, terminando em abril de 2000, houve aumento de 864 mil novas vagas em relação ao mesmo mês de 1999. Já em relação ao salário mínimo, enquanto em maio de 1994 comprava 0,69 da cesta básica, em maio de 2000, comprava 1,15 da cesta, correspondendo a um acréscimo efetivo de 67%.
Por fim, na área da cultura, o Plano Real trouxe grande avanço. Na área cinematográfica, foram realizados 5 filmes entre 1990 e 1993. No período de 1994 a 1999, o número evoluiu para 117. O número de espectadores de filmes brasileiros, que não passava de 350 mil em 1994, superou os cinco milhões em 1999. Quanto à área de livro e leitura, foram identificados 2194 municípios que não dispunham de bibliotecas públicas. Entre 1996 e 1999, foram implantadas 686 bibliotecas, totalizando uma aquisição de mais de R$ 27 milhões, beneficiando todas as regiões do Brasil (especialmente, o Nordeste).
9. O PLANO ECONÔMICO SEGUNDO SEUS IDEALIZADORES
Para o ex-presidente da republica Itamar Franco, o plano real foi uma das maiores aventuras de sua vida política. Ele afirma que pegou a administração do país num caos político, econômico e social. O Plano Real poderia ser ou a salvação ou a ruína da economia brasileira. Comenta também que o sucesso do Plano Real não se deve a apenas uma pessoa, mas sim a uma equipe.
Ele cita a importância dos ministros Paulo Haddad, Gustavo Krause, Eliseu Resende, Fernando Henrique Cardoso e Rubens Ricúpero. O ex-presidente mencionou um fato, onde o então ministro Ricúpero o falou que o Plano ainda não estava incompleto e deveria ser terminado pelo outro governo. Mas, mesmo assim, em 1 de julho de 1994, conseguiram lançar o Plano Real.
Franco também afirma que sofreu intensas críticas, pois seu plano era relacionado a uma forma de garantir a vitória de seu sucessor. Mas, complementa dizendo que se não fosse o Plano Real a situação do país estaria bem pior.
O ex-ministro da Fazenda e ex-presidente da república Fernando Henrique Cardoso, ao comentar sobre o Plano Real, evidencia que a maior preocupação do plano era conter a taxa cambial, controlando, assim, a inflação. Afirma, também, que um dos elogios mais emocionantes que recebeu, partiu da rainha da Inglaterra Elisabeth II que afirmou ser o Plano Real uma das maiores estratégias econômicas da modernidade.
Por fim, admite que o sucesso do plano se deu pelo rígido controle econômico e, consequentemente, da inflação. Fernando Henrique diz que se orgulha pela contribuição na criação do plano e que não se arrepende das medidas econômicas tomadas, até porque foram elas que salvaram o país.
10. CONCLUSÃO
Após analisar a evolução e consolidação do Plano Real na economia brasileira, podemos afirmar que sua criação foi de grande importância para o crescimento econômico nacional. Como mencionado na pesquisa, o país passava por uma das maiores crises de toda sua história e o plano real poderia ser a salvação ou a perdição do Brasil.
Devemos, ainda, destacar que se não fosse este plano, o nosso país estaria em condições péssimas, visto que a situação econômica só tenderia a piorar. Após analisar todos os dados, podemos afirmar, com absoluta certeza, que ele foi a salvação do país. Os dados comprovam que houve um crescimento real, em todos os setores, a partir de 1994.
Portanto, o plano deve ser louvado por todos os brasileiros. Além disso, seus idealizadores devem ser lembrados pela história pelos seus importantes atos e os governantes devem se espelhar a fim de que possam evitar outras situações de crise no país.
11. REFERÊNCIAS
NETO, Geneton Moraes. Os Segredos dos Presidentes. São Paulo: Globo, 2005. 265 p.
GLOBO, Memória. Jornal Nacional: A Notícia faz História. 12ª Edição. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2005. 406 p.
BRASIL, Presidência da República Federativa do. 6 Anos do Real: Crescimento e Desenvolvimento Social. Presidência da República, Brasília, 2000. Disponível em:
MOTA, Myriam Becho; BRAICK, Patrícia Ramos. História das Cavernas ao Terceiro Milênio. São Paulo: Moderna, 2005.
Camila Christina Feitoza Sousa Dantas, Camilo de Lélis Diniz de Farias, Déborah Maria da Cunha Lima, Joagny Augusto Costa Dantas, Júlio César de Andrade Araújo, Martha Ysis Ribeiro Cabral, Mateus de Souza Oliveira e Vinicius de Souza Cabral.
Graduandos em Direito pela Universidade Estadual da Paraíba
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